terça-feira, 16 de março de 2010

Princesa Desconhecida sem retrato


a Sophia de Mello Breyner

O custo da perfeição não tem idade

mas traz cansaço e vidas dobradas,

dizes,

para o tornozelo e o pescoço esguio

não foram sete dias, foram séculos

de história e um estilhaço no horizonte

para salvar da beleza o teu corpo

e o seu exílio, dizes,

e eu escrevo nas ondas com que criaste o mar,

a forma pura e límpida da búzio

por onde entram fadas, conchas ao entardecer.

Mas a princesa mora para lá do tempo

onde o ar é imóvel nos seus cabelos,

dizes

quantos escravos moldaram rosto a rosto

a simplicidade, quanto inútil for a morte

e a vida ajoelhada. Não fosse o mar

salpicar-te a face toda com palavras

não dirias pátria de voz cheia,

não terias acordado com um beijo de cravo

na lapela aberta do poema.



poema: Rosa Alice Branco
fotografia: Daniel Camacho

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