terça-feira, 21 de dezembro de 2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
O céu
quem como eu traz desfraldado o coração
sabe o que querem dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Paul Kalkbrenner - Sky And Sand
In the night time when the world is at its rest.
You will find me.
In the place I know the best.
Dancin shoutin. Flying to the moon.
Dont have to worry.
Cause Ill be come back soon.
And we build up castles in the skys and in the sand.
Design our own world aint nobody understand.
I found myself alive in the palm of your hand.
As long as we are flyin all this world is aint got no end.
All this world aint got no end.
In the daytime you will find me by your side.
Trying to do my best.
Trying to make things right.
When it all turns wrong.
There is no flow but mine.
But it wont hit hard.
You let me shine.
And we build a castle in the skys and in the sand.
Design a own world aint nobody understand.
I found myself alive in the palm of your hand.
As long as we are flying all this world is aint got no end.
All this world is got no end.
And we build up castles in the skys and in the sand.
Design our own world aint nobody understand.
I found myself alive in the palm of your hand.
As long as we are flyin all this world is aint got no end.
All this world aint got no end.
O Tempo Vive
se esquecem de si mesmos,
ficando, embora, a contemplar o estreme
reduto de estar sendo.
O tempo vive a refrescar a sede
dos animais e do vento,
quando a estrutura estremece
a dura escuridão que, desde dentro,
irrompe. E fica com o uivo agreste
espantando o seu estrondo de silêncio.
poema: Fernando Echevarría
fotografia: Pedro Sacadura
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Esperança
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
poema: Mário Quintana
fotografia: José António
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
fotografia: Márcio Farias
Que elas saíssem a pé, foi a sua imposição; e que levassem só o que pudessem carregar com os braços. Tudo o que ficasse para trás seria arrasado pelo fogo. (...)
A parte que conta Montaigne comove: as mulheres, com a força que só o coração e o desespero conseguem, pegaram em filhos e maridos e carregaram-nos às costas, livrando-os da morte.
texto [excerto]: Gonçalo M. Tavares
fotografia: Mariana Sabido
domingo, 30 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
A verdade
Eu tinha chegado tarde à escola. O mestre quis, por força, saber porquê. E eu tive que dizer: Mestre! quando saí de casa tomei um carro para vir mais depressa, mas, por infelicidade, diante do carro caiu um cavalo com um ataque que durou muito tempo.
O mestre zangou-se comigo: Não minta! diga a verdade! E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... minha mãe tinha um irmão no estrangeiro e, por infelicidade, morreu ontem de repente e nós ficámos de luto carregado.
O mestre ainda se zangou mais comigo: Não minta! diga a verdade!!
E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... estava a pensar no irmão de minha mãe que está no estrangeiro há tantos anos, sem escrever. Ora isto ainda é pior do que se ele tivesse morrido de repente porque nós não sabemos se estamos de luto carregado ou não.
Então o mestre perdeu a cabeça comigo: Não minta, ouviu? diga a verdade, já lho disse!
Fiquei muito tempo calado. De repente, não sei o que me passou pela cabeça que acreditei que o mestre queria efectivamente que lhe dissesse a verdade. E, criança como eu era, pus todo o peso do corpo em cima das pontas dos pés, e com o coração à solta confessei a verdade: Mestre! antes de chegar à Escola há uma casa que vende bonecas. Na montra estava uma boneca vestida de cor-de-rosa! Mestre! a boneca estava vestida de cor-de-rosa! A boneca tinha a pele de cera. Como as meninas! A boneca tinha tranças caídas. Como as meninas! A boneca tinha os dedos finos. Como as meninas! Mestre! A boneca tinha os dedos finos...
poema: José de Almada Negreiros
fotografia: Al Magnus
quarta-feira, 26 de maio de 2010
O Príncipe Feliz [Oscar Wilde]
Na mais central praça da cidade erguia-se a estátua do Príncipe Feliz. Era uma autêntica jóia.
Olhando com mais atenção para a estátua, a andorinha notou que duas gotas lhe molhavam a cara... Eram duas grossas lágrimas!
-Porque choras, Príncipe?
-Pelos pobres da cidade, amiguinha. Há tantos! Quando reinava, ninguém me contava nada do que sucedia, e os altos muros do Palácio não me deixavam ver. Mas desde que me colocaram aqui posso ver a pobreza e a miséria de tanta gente, e sinto-me angustiado. Queres ajudar-me?
-Estou de passagem para o Egipto... -respondeu-lhe a andorinha.
Mas o Príncipe pediu-lhe tanto, que acabou por dizer que sim.
-Arranca o rubi da minha espada. Leva-o ali àquele casebre em frente. Lá vivem uns meninos pobres que não podem pagar o aluguer. Querem pô-los na rua... Impede-lo!
A andorinha arrancou o rubi da espada e levou-o ao casebre.
-Olhem, deixou-nos uma coisa.
-É uma jóia. Podemos vendê-la e com o dinheiro pagar o aluguer da nossa casa. - disse a mais velha.
Voltando para junto da estátua, a andorinha disse ao Príncipe:
-Terminei, Príncipe. Agora vou partir para o Egipto.
-Espera um pouco, amiguinha. Há mais pobres na cidade. Leva uma safira a um escritor doente, que é tão pobre que nem pode pagar os remédios.
-Mas a safira é um dos teus olhos. Vais ficar vesgo se t'o arrancar.
-Não faz mal! Anda, vai ajudá-lo.
A andorinha voou até à arruinada cabana que o Príncipe lhe tinha indicado. E a safira serviu para salvar o velho escritor.
Havia mais pobres na cidade. A andorinha tinha que voar para o Egipto, onde passaria o Inverno junto com as irmãs... mas o Príncipe pediu-lhe que tirasse a outra safira do olho.
-Se o fizeres FICARÁS CEGO!
-Não faz mal, andorinha.
Estava muito frio. O Inverno já se instalava. E a andorinha foi socorrer outros pobres. Arrancou uma a uma as lâminas de ouro da estátua. E quando acabou e dela já nada de valor restava, deitou-se aos pés do amigo. Não o abandonaria assim cego...! E numa noite ainda mais fria a andorinha morreu, o que feriu profundamente o coração de chumbo do Príncipe Feliz.
Como a estátua sem os enfeites ficara muito feia, um dia baixaram-na do pedestal e levaram-na para uma fundição. Mas ao fundi-la verificaram que o coração de chumbo resistia ao calor mais elevado. Deram-no então a outro ferreiro, que também não conseguiu fundi-lo.
-Tragam ao Céu o coração de chumbo do Príncipe Feliz e o corpo da Andorinha -ordenou Deus, sorrindo.
-Nunca na Terra ninguém demonstrou tanto amor pelos pobres -acrescentou. -Por isso vão ficar eternamente a meu lado.
terça-feira, 25 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Sítio exacto
Devo-te
Devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo à lavada
planície do céu.
Devo-te a forma
novíssima de olhar
teu corpo onde às vezes
desce o pudor o silêncio
de uma pálpebra mais nada.
Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesíaca, doce
violência dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silêncio
das coisas - estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pólen
levíssimo do dia;
estas formigas na sombra
da própria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisível, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta - ó meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mãos!
poema: Vítor Matos e Sá
fotografia: Alba Luna
domingo, 2 de maio de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
A Flor
Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
texto [excerto]: José de Almada Negreiros
fotografia: Mariana Sabido
Valor das Palavras
Há palavras que fazem bater mais depressa o coração - todas as palavras - umas mais do que outras, qualquer mais do que todas. Conforme os lugares e as posições das palavras. Segundo o lado donde se ouvem - do lado do Sol ou do lado onde não dá o Sol.
Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz falta ao universo. Todas as palavras juntas formam o Universo.
texto [excerto]: José de Almada Negreiros
fotografia: Al Magnus
terça-feira, 27 de abril de 2010
Se eu nunca disse que os teus dentes
São pérolas,
É porque são dentes.
Se eu nunca disse que os teus lábios
São corais,
É porque são lábios.
Se eu nunca disse que os teus olhos
São d'ónix, ou esmeralda, ou safira,
É porque são olhos.
Pérolas e ónix e corais são coisas,
E coisas não sublimam coisas.
Eu, se algum dia com lugares-comuns
Houvesse de louvar-te,
Decerto que buscava na poesia,
Na paisagem, na música,
Imagens transcendentes
Dos olhos e dos lábios e dos dentes.
Mas crê, sinceramente crê,
Que todas as metáforas são pouco
Para dizer o que eu vejo.
E vejo lábios, olhos, dentes.
poema: Reinaldo Ferreira
pintura: Isabel Lhano
segunda-feira, 26 de abril de 2010
As palavras
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Aventuras de João Sem Medo
segunda-feira, 19 de abril de 2010
domingo, 18 de abril de 2010
Tarde de leite e rosas, ouvindo a floresta
Tinha um rubi tremente:
Fomos ouvir o canto da floresta,
O seu canto de amor, ao sol poente.
Em cada ramo, um violino havia:
Cada folha vibrava, ágil, sonora,
Par'cendo que escondia uma harmonia,
Nas sombras das ramagens, a Aurora.
Como a floresta, meu amor, eu tento,
Atirar o meu canto pra a altura:
Para a fazer cantar, toca-lhe o vento,
Pra me fazer cantar, no pensamento,
Passa o sopro da tua formosura.
sábado, 17 de abril de 2010
Coração Polar
Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha .
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.
poema: Manuel Alegre
fotografia: João Chaves
terça-feira, 23 de março de 2010
Se me puderes ouvir
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui
à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer
segredamos
mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo