terça-feira, 9 de março de 2010

Poema da despedida


Não saberei nunca

dizer adeus


Afinal,

só os mortos sabem morrer


Resta ainda tudo,

só nós não podemos ser


Talvez o amor,

neste tempo,

seja ainda cedo


Não é este sossego

que eu queria,

este exílio de tudo,

esta solidão de todos


Agora

não resta de mim

o que seja meu

e quando tento

o magro invento de um sonho

todo o inferno me vem à boca


Nenhuma palavra

alcança o mundo, eu sei


Ainda assim,

escrevo

poema: Mia Couto
fotografia: Graça Loureiro

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