domingo, 7 de fevereiro de 2010

Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto



Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo

das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas

da casa e de tudo aquilo com que sonhes.


Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava

no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha

a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi

de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs

com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.

O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai

demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,

serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono

se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.

poema: Maria do Rosário Pedreira
fotografia: Pedro Moreira

Sem comentários:

Enviar um comentário