domingo, 6 de dezembro de 2009

As tuas mãos


Quando tuas mãos, amor,
procuram as minhas,
que me trazem em seu voo?
Por que se detiveram
na minha boca, de súbito,
por que é que as reconheço
como se já antes
as tivesse tocado,
como se antes de existir
tivessem percorrido
a minha fronte, a cintura?

A sua suavidade
voava sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
sobre a primavera,
e quando puseste
as mãos no meu peito,
reconheci essas asas
de pomba dourada,
reconheci essa greda
e essa cor de trigo.

Passei os anos
da minha vida a procurá-las.
Subi as escadas,
atravessei os recifes,
levaram-me os comboios,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
imaginei tocar-te.

De repente a madeira
trouxe-me o teu contacto,
as amêndoas anunciavam-me
tua secreta doçura,
até que as tuas mãos
em meu peito se fecharam
e ali como duas asas
terminaram a viagem.

poema: Pablo Neruda

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