quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Flor de Tinta



O poema é o desenho desta letra

inclinada pelo rumor do vento

quando lhe peço abrigo

e vejo nele o espelho do meu corpo

repousando nos teus braços de ontem.


A tinta ainda não acabou de secar

O cheiro fresco da página vira-se para a página seguinte

e a minha voz ouve-se melhor ao vento

quando conspiramos no silêncio

a próxima letra

e a exactidão do seu desenho.


Agora há mimosas nas árvores

e lá em baixo o rio já não é como era

nem saberia sê-lo.

Esqueci como se bebe a água pela mão

ou como se bebe a mão

do rio.


Eu existia nessa transparência,

na flor espiritual e líquida

da tinta

que retoca no papel a sua vida.

Esta letra é o meu nome soletrado por ti,

o meu nome que ainda não está seco

e te olha nas acácias florindo em amarelo

no rigor do inverno.


Qualquer palavra tua me desenha

e assim começa qualquer coisa

que me estava destinada desde sempre.


poema: Rosa Alice Branco

ilustração: Isabelle Arsenault

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